Bombeiros reunidos de urgência para pesar propostas do Governo

por Joana Raposo Santos - RTP
Na terça-feira, pelo menos três centenas de sapadores de várias zonas do país manifestaram-se em Lisboa. Miguel A. Lopes - Lusa

Os sindicatos dos bombeiros realizam esta quarta-feira uma reunião de urgência para avaliar e discutir as propostas apresentadas pelo Governo na véspera, prevendo-se que sejam definidas novas formas de luta, que podem passar por greves e manifestações. Descontentes com as soluções do Executivo, os sapadores vieram já acusá-lo de "ofender" a classe profissional.

À entrada para a reunião, o presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP) pediu que bombeiros profissionais e sapadores se unam “de maneira mais ordeira”.

“Gostava de apelar (…) a que os bombeiros profissionais e sapadores se unam, mas que se unam de uma maneira mais ordeira e organizada, para que possamos manter aquilo que é a nossa postura, o nosso trabalho em relação à defesa e à representação dos nossos bombeiros de todo o país”, declarou.

Fernando Curto pediu ainda ao Governo e ao secretário de Estado que “reatem o mais rápido possível as negociações com os sindicatos”, que disse serem “instituições credíveis, que representam os trabalhadores e que o Governo deve ouvir”.
Já Sérgio Carvalho, do Sindicato Nacional de Bombeiros Profissionais (SNBP), disse ser “muito simples o que está em cima da mesa: manter as sete categorias de bombeiro sapador que existem, atualizar a tabela salarial para o nível 14 (…) e, a nível dos suplementos remuneratórios, reconhecer o mesmo que foi reconhecido a outras forças de segurança”.

“O próprio Governo puxa à mesa de reuniões temas que não são os temas da atualização da tabela salarial e dos suplementos, o que leva a que muitos bombeiros que estão a aguardar há muitos anos a revisão da tabela comecem a sentir algum descontentamento”, declarou aos jornalistas.
Quanto aos comportamentos dos bombeiros durante a manifestação, marcada pelo lançamento quase ininterrupto de petardos, este dirigente sindical afirmou que “em qualquer manifestação é natural que haja situações que fogem à dinâmica”.
Três centenas de bombeiros na manifestação
Na terça-feira, pelo menos três centenas de sapadores de várias zonas do país iniciaram uma concentração em Alvalade, percorrendo depois a Avenida de Roma até chegarem ao Campus XXI, junto ao Campo Pequeno, onde decorria na sede do Governo a reunião negocial.

Com tochas e petardos, os manifestantes provocaram nesse local uma grande nuvem de fumo. Entre pedidos de "respeito", os profissionais exigiram a revisão da carreira e o aumento do subsídio de risco.

Ao final de aproximadamente duas horas de reunião, o Governo acabou por suspender as negociações por não aceitar negociar perante formas não ordeiras de manifestação.A reunião de urgência desta quarta-feira, com início pelas 10h00, foi convocada pela Associação Nacional de Bombeiros Profissionais e pelo Sindicato Nacional de Bombeiros Profissionais.

Mais tarde, em comunicado, explicou que “aparentemente sem terem sido cumpridos os deveres legais quanto à realização de manifestações públicas, um conjunto de pessoas autoidentificadas como sapadores exibiu comportamentos perturbadores (…) que não são minimamente compatíveis com um exercício ordeiro e tranquilo da liberdade de manifestação, nem com o respeito do processo negocial em curso”.

Na terça-feira, o Executivo indicou que uma jornalista teria sido ferida no contexto da manifestação. Os sapadores disseram, por sua vez, ter-se tratado de um incidente menor, após o disparo de um petardo perto do pé de uma jornalista.

Questionado sobre os petardos lançados pelos sapadores em protesto, um dos sindicalistas respondeu que, “conhecendo os bombeiros, a segurança nunca está em causa. Os bombeiros são soldados da paz, não são soldados da guerra”.

“Está a haver uma tentativa de descredibilizar a imagem dos bombeiros sapadores. Não somos arruaceiros, não houve agressões a jornalistas, não houve agressões à polícia”, disse a bombeira Frederica Pires em declarações à RTP.
“Governo mente a todos os portugueses”
Falando aos bombeiros reunidos junto ao Campus XXI depois de a reunião com o Governo ter sido suspensa, um dirigente sindical transmitiu que as propostas apresentadas pelo Executivo tinham sido rejeitadas.

A proposta “tinha um ligeiro avanço [em relação] à proposta anterior do Governo, mas aquém daquilo que nós nos comprometemos convosco, e por esse mesmo motivo nós recusámos aquela proposta”, avançou.

Em comunicado, o Executivo explicou que propôs um aumento progressivo da remuneração, que em 2027 chegaria aos 30 por cento. A partir daí, o aumento seria de 15 por cento.
Em matéria de suplementos, as divergências são ainda maiores: o Governo propõe o pagamento a 12 meses com um valor fixo de 50 euros no próximo ano, mas os sindicatos querem que o subsídio de risco seja equiparado ao das restantes forças de segurança e pago a 14 meses.

"Da parte do Governo tem havido uma disponibilidade para o diálogo e um esforço efetivo de melhoria das condições da carreira dos sapadores, sem precedentes nos últimos 22 anos", adiantava a nota.

O presidente do Sindicato Nacional de Bombeiros Sapadores veio já acusar o Executivo de faltar verdade no comunicado que enviou às redações.

“O esclarecimento do Governo mente a todos os portugueses. A olhar para esse documento, irão verificar que os aumentos que propõe para os bombeiros são os aumentos já previstos para todos os funcionários públicos até 2028”, declarou Ricardo Cunha à Antena 1.

“É uma vergonha. Dizer-se que se está a aumentar os bombeiros quando os bombeiros já irão ter esses aumentos, é uma vergonha. Estão a ofender os bombeiros”, acrescentou.
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